domingo, 9 de maio de 2010

Fracasso da primeira tentativa de se fazer tradicionalismo
Parece que a explicação melhor é que o gaúcho, seus usos e costumes, eram ainda uma realidade muito próxima. Ninguém sentiu saudade do que estava perto. Ninguém procurou defender o que não estava ameaçado. Quem precisava ir ao Grêmio Gaúcho para ver cavalhadas, carreiras de cancha reta, fandangos, churrascos ou trajes gauchescos? Isso, no Rio Grande do Sul da virada do século, era coisa de todos os dias e de todos os lugares. Claro que o afastamento de Cezimbra Jacques para o Rio esfriou o calor do impulso inicial. Claro que os meios de divulgação eram precários, á época, mas a razão realmente preponderante seria essa: o gauchismo vivia, era forte e saudável. Onde todos, a rigor, eram “tradicionalistas” (no sentido de viver, efetivamente, a tradição) não havia maior necessidade de se fazer um movimento exclusivamente para isso.
Passam-se os anos e, décadas mais tarde, a Alemanha nazista se levanta das cinzas da I Grande Guerra e começa a atrair as simpatias dos descendentes de alemães, em todo o mundo. No Rio Grande do Sul, a propaganda hitlerista foi intensa. Então, a 31 de janeiro de 1938, um grupo de moços que falavam o português com forte sotaque teuto-riograndense, fundou em Lomba Grande a Sociedade Gaúcha Lomba-grandense, para testemunhar o seu amor pelo Rio Grande do Sul e pelo Brasil. Essa entidade existe até hoje, é forte, rica e respeitada. Seus fundadores, a princípio, foram hostilizados, chamados de “clube da alfafa”, mas resistiram a tudo. Não eram alemães, não queriam ser nazistas. Eram gaúchos e brasileiros e provaram isso com muita coragem e com muito amor.
A 19 de outubro de 1943, em plena II Guerra Mundial e no meio de uma comunidade de descendentes de alemães, um gaúcho admirável, sonhador e visionário, liderou a fundação do Clube Farroupilha, voltado exclusivamente para o culto das tradições gauchescas. Ele era o Capitão Laureano Medeiros e a cidade cenário desse acontecimento histórico e também pioneiro – Ijuí. O Clube Farroupilha, aliás, continua até hoje, sem interrupções, com sua bela atividade tradicionalista.
Esses foram os esforços feitos antes que o movimento tradicionalista se tornasse uma realidade.
Getúlio Vargas, em 1937, tinha proibido no Brasil o uso dos símbolos estaduais: o hino, a bandeira, o brasão. Com o fim da guerra, em 1945, Vargas foi derrubado e com a volta da democracia os símbolos estaduais gaúchos tardavam a aparecer.
Em 1947 um moço, nascido em Santana do Livramento, chamado João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, estudante do Colégio Estadual Júlio de Castilhos viu um pano colorido, já desbotado, rasgado e sujo, sevindo de cortina em um bar de quinta categoria. Desconfiado, puxou uma das pontas: era a admirada bandeira do Rio Grande do Sul! Dizem que foi essa a única vez na vida em que Paixão Côrtes chorou.
Então, como o governo do Estado ia trazer de Santana do Livramento os restos mortais do herói farroupilha David Canabarro, ele conseguiu reunir mais sete companheiros, cavalos e arreios e assim, bem pilchados e de-a-cavalo, oito rapazes deram escolta gauchesca de honra aos gloriosos despojos. Na Praça da Alfândega, onde fizeram um alto para uma cerimônia, aproximou-se deles um guri tímido, tipo precoce: Luiz Carlos Barbosa Lessa, de Piratini, por coincidência também estudante do “Julinho”. Logo depois, no mesmo lugar, outro moço, já mais velho, de óculos e poeta conhecido: Glaucus Saraiva. Assim se reuniu, meio por acaso, a Santíssima Trindade do Tradicionalismo gaúcho: Paixão, o dínamo propulsor. Lessa, o estudioso, o teórico. Glaucus, o organizador, o disciplinador. Poucos dias depois, sempre por iniciativa do Paixão, realizou-se no Colégio Júlio de Castilhos a primeira Ronda Crioula do Tradicionalismo. E a mais longa de todas: durou 12 dias, desde que um piquete de cinco cavalarianos recolheu no Altar da Pátria, na hora da extinção, a zero hora de 8 de setembro de 1947, uma “mudinha” da chama simbólica. Em rápida galopeada, queimando as mãos, os cinco levaram essa chama para inflamar o Candeeiro Crioulo armado no “Julinho”, onde ardeu até 20 de setembro, o Dia do Gaúcho, data magna do Rio Grande do Sul.
Durante essa primeira Ronda Crioula houve festa com música, poesia, fandango, concursos e discursos. Verificado assim o enorme êxito, no que ajudou o convite que os rapazes fizeram a homens maduros, como Manoelito de Ornellas, Amândio Bicca e Valdomiro Souza, os moços resolveram fundar uma entidade permanente para a defesa das tradições gauchescas.
Agora o gaúcho e seus usos e costumes estão ameaçados. A forte propaganda americana seduz a juventude de nossa terra, com as Seleções, as revistas em quadrinhos e o cinema, o “cowboy” e toda uma gama de heróis norte-americanos. E por trás disso tudo, se vão as ricas divisas acumuladas pelo Brasil durante o conflito e vem o plástico, o uísque, a Coca-Cola e o chiclé, além das armas velhas e veículos de guerra usados que estão sobrando nos Estados Unidos.
Nesta época já existem muitos jornais em Porto Alegre e no interior do Estado e só na capital várias fortes emissoras de rádio. Agora sim, o Rio Grande do Sul parece ter saudade do gaúcho.
A nova entidade que os rapazes sonham fundar seria um clube exclusivamente masculino, só com 35 sócios (para evocar o ano em que começou o Decênio Heróico) e a sede seria um rancho no Parque da Redenção. Mas as férias escolares interromperam os planos.
Reencontram-se todos com o começo das aulas, em 1948 e a 24 de abril, no amplo e sólido porão do solar da família Simch, na Rua Duque de Caxias (hoje existe um moderno edifício no lugar) funda-se, depois de muita discussão, o “35” – Centro de Tradições Gaúchas, nome proposto por Barbosa Lessa. Flávio Ramos propõe o lema: “Em qualquer chão – sempre gaúcho!”. Guido Mondin desenha o símbolo: o número 35 atravessado por uma lança de cavalaria. Glaucus Saraiva imagina toda uma nomenclatura campeira para os cargos de diretoria e repartições do novo centro e é eleito o seu primeiro Patrão.
E logo o chamamento do “35” encontrou resposta. A 8 de agosto desse mesmo ano (menos de 4 meses depois da fundação do “35” CTG) os rapazes de Porto Alegre tem que ir a Taquara, onde se funda o CTG “O Fogão Gaúcho”, copiando em tudo o modelo proposto pelo Pioneiro, “sui-generis”, original, único no mundo onde cada célula (CTG ou entidade tradicionalista afim) guia-se obrigatoriamente pelos mesmos princípios e normas de ação.
O tradicionalismo tem aspectos especiais e específicos, que são os culturais, divididos em ciências e artes.
Os aspectos especiais são cinco e todos são fundamentais. Faltando qualquer deles, já não se fala em tradicionalismo.
  • Aspecto cívico – É o que primeiro se nota nas atividades do CTG. Lá estão as bandeiras e os hinos, do Brasil e do Rio Grande do Sul, nas festas, nas solenidades, nos desfiles de cavalaria e nas sedes são comuns os quadros retratando os nossos heróis e figuras patrióticas. O gaúcho tem duas pátrias: a Pátria Grande, que é o Brasil e Pátria Pequena, ou Chica, que é o Rio Grande do Sul.
  • Aspecto filosófico – O aspecto filosófico do Tradicionalismo é dado pelos quatro documento básicos que norteiam obrigatoriamente (aprovado em três congressos e uma convenção) todos os centros de tradições gaúchas. O primeiro é a tese “O sentido e o valor do Tradicionalismo Gaúcho”, de Barbosa Lessa, aprovada no I Congresso Tradicionalista do RGS, em Santa Maria, julho de 1954. O segundo é a tese “A função acultuadora dos centros de tradições gaúchas”, de Carlos Galvão Krebs, aprovada no II Congresso Tradicionalista do RGS, julho de 1955. O terceiro é a Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista do RGS, de Glaucus Saraiva, aprovada no VIII Congresso Tradicionalista do RGS, em Taquara, julho de 1961 e o quarto é a tese “A função social do MTG”, redigida por Antônio Augusto Fagundes sob orientação de Onésimo Carneiro Duarte, aprovada pela Convenção Tradicionalista de Lagoa Vermelha, em julho de 1984. Esses quatro documentos fundamentais ditam a filosofia do Tradicionalismo, dando-lhe unidade e tornando-o um movimento. Se não, haveria entidades tradicionalistas com orientação própria, sem um sentido comum, como sucede em outros países.
  • Aspecto ético – Esse é o aspecto da filosofia não escrita do tradicionalismo, que diz sobre o permitido e o proibido dentro das entidades tradicionalistas, mas informalmente. Porque não se realizam bailes de carnaval dentro de um CTG? Porque o Papai Noel não entra em CTG? Porque não existe homossexual no tradicionalismo? Porque não existe droga? Perguntas frequentes mas, nada disso é proibido pelos estatutos e regimentos internos e, no entanto, a ética do tradicionalismo disciplina esses assuntos sem o uso das sanções, apenas por sua força intrínseca, forte como tudo o que a gente leva naturalmente dentro de si.
  • Aspecto associativo – Toda a entidade tradicionalista reveste obrigatoriamente o caráter de associação civil, organizada e registrada de acordo com a lei brasileira. O tradicionalismo é obrigatoriamente coletivo. Individual, quando muito, a tradição.
  • Aspecto recreativo – Além de tudo o que oferece, o tradicionalismo precisa oferecer aos associados também recreação. Lá está a roda de mate, o churrasco, o arroz-de-carreteiro, o cigarro palheiro e o infaltável fandango, que é o momento de recreação por excelência do tradicionalismo.
  • Entre os aspectos específicos, ou culturais, do tradicionalismo, estão as ciências e as artes.
    As ciências são todas aquelas que, com seus conhecimentos, podem auxiliar o movimento no que se propõe. A história diz do passado glorioso, homens e momentos que construíram o Rio Grande do Sul. A geografia localiza pagos e querências, rios, lagoas, cerros, onde às vezes as lendas também estão presentes. A linguística estuda o falar gauchesco. A zoologia, bichos como o cavalo e o boi, fundamentais na história do gaúcho. A botânica, estuda árvores e plantas. Sem essa ciência, como saberíamos sobre a erva-mate? E, além dessas, muitas outras ciências mais.
     

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