sexta-feira, 30 de abril de 2010

Crescimento e novos conflitos...

Mesmo com o crescimento de várias cidades, principalmente Porto Alegre, Pelotas ainda ocupava a posição de predomínio econômico no estado, quando o ciclo do charque entrava em seu apogeu. Cerca de 300 mil reses eram abatidas anualmente nas charqueadas da região, gerando grandes lucros para a elite local. O charque se transformava em pinturas, louças finas, roupas da última moda francesa, cristais, móveis de luxo, casas elegantes. Nos jornais os cronistas se orgulhavam de em sua cidade nem um único edifício público ter sido pago pelo governo estadual, sendo tudo financiado pelos locais. Em visita à cidade, o Conde D'Eu observou:


Solar do Barão de Três Serros, em Pelotas, hoje o Museu da Baronesa.

"É Pelotas a cidade predileta do que eu chamo de aristocracia rio-grandense. Aqui é que o estancieiro, o gaúcho cansado de criar bois e domar cavalos no interior da Campanha, vem gozar as onças e os patacões que ajuntou em tal mister".

Enquanto esse ciclo econômico continuava, na política a situação começava a mudar. Em 1881 voltou à sua terra natal um grupo de jovens liderado por Júlio de Castilhos, depois de temporada de estudos em São Paulo, onde entraram em contato com ativos intelectuais e com a filosofia positivista. A campanha abolicionista ganhava as ruas e Castilhos assumiu imediatamente a dianteira do movimento, ao mesmo tempo em que criava um Partido Republicano diferenciado, o Partido Republicano Rio-grandense, inspirado no Positivismo, cujo porta-voz foi o influente jornal A Federação. A partir de 1884, contando com a participação de grandes segmentos da sociedade, conseguiram iniciar um processo gradativo de libertação dos cerca de oito mil escravos do estado, quatro anos antes da proclamação da Lei Áurea. Os libertos, contudo, não encontrariam facilmente uma colocação no mercado de trabalho, reunindo-se em guetos e vilas, sofrendo privações e discriminações de toda ordem, e obtendo apenas tarefas de baixa remuneração.

Um dos primeiros grupos de negros libertos em Porto Alegre, c. 1884.


Na alvorada da República Júlio de Castilhos assumiu a secretaria do governo e em seguida participou no Rio da elaboração da nova Constituição. Voltando ao estado em 1891, passou a trabalhar na Constituição Estadual. Aprovada em 14 de julho, no mesmo dia se realizou a primeira eleição para uma Presidência constitucional, saindo-se Castilhos vencedor com 100% dos votos. Mas as rivalidades políticas se acirraram a um ponto sem retorno. O Partido Federalista (antigo Partido Liberal) lutava pela centralização e o parlamentarismo; o Partido Republicano pelo sistema presidencialista e pela autonomia provincial. Depois de várias mudanças de governo deflagrou-se uma nova guerra civil em 1893, a Revolução Federalista, liderada por Silveira Martins, antigo adversário de Castilhos. Se na Revolução Farroupilha ainda se viram cenas de nobreza, honra e altruísmo, ao longo da Revolução Federalista, que desejava derrubar Castilhos, de novo no poder, generalizou-se a crueldade e a vilania. Décio Freitas diz que foi a mais violenta das guerras civis em toda a América Latina, e outros que escreveram sobre ela não cessam de reiterar expressões de horror. Durou mais de dois anos e ceifou mais de dez mil vidas, imprimindo uma nódoa de ódio fratricida que até hoje envergonha a memória do estado.

Batalhão de lanceiros na Revolução Federalista.


Com a derrota dos rebeldes em 1895, Júlio de Castilhos concentrou em si o controle absoluto do estado. A oposição se viu completamente desarticulada e os principais líderes dos revoltosos ou estavam mortos ou partiram para o exílio, sendo acompanhados por cerca de 10 mil correligionários. Então se iniciou uma longa dinastia política que iria governar o estado por décadas, e influenciaria todo o Brasil através de um de seus discípulos, Getúlio Vargas. Castilhos controlava toda a máquina administrativa estadual através de uma rede de subordinados fiéis, interferindo diretamente na vida dos municípios. Adepto entusiasta do Positivismo, orientou sua administração por suas idéias de ordem, moralidade, civilização e progresso, mas dava pouco valor ao voto, sendo repetidamente acusado de fraudar as eleições. Era visto por seu círculo como um iluminado, e mesmo exercendo um poder ditatorial, relevou antigas ofensas e não perseguiu seus desafetos, nem obstruiu o trabalho da imprensa, permitindo considerável liberdade de expressão. Seu governo foi elogiado até por seus oponentes, como Venceslau Escobar, que admirou-se de sua "largueza de descortino, realizando e projetando medidas progressistas". De fato com ele o estado entrou definitivamente na modernidade, atualizando uma herança administrativa colonial obsoleta que até então fora baseada mais no improviso. Sua primeira preocupação foi reorganizar a Justiça, os transportes e as comunicações. Apoiou os imigrantes e fomentou o desenvolvimento do interior. Em 1898 deixou o governo assegurando a continuidade do seu programa através da eleição de Borges de Medeiros num pleito sem adversários.

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